6 de jun. de 2009

perguntas ...


" É o rompante de dignidade que eu deveria adotar para mim às vezes." Eu não me censuro - e ninguém deveria me censurar - por sonhar, por esperar, por gostar de leite frio de manhã, de uvas, de um outro ser humano. Eu sou um de vocês... O tempo, aí, é o que me salva nessas horas. Saber que nada é eterno, nem mesmo a vida, me consola um pouco. Uma vez uma amigo minha fez uma análise tão prática a respeito da vida para embasar a vontade dela de ir para a Inglaterra que me deixou desconcertada, mas maravilhada ao mesmo tempo. Ele me disse: "Bom, a gente vive em média, deixa eu ver... Uns 80 anos. Eu estou com 29, o que me dá mais ou menos 50 anos para ganhar dinheiro, me estabilizar e viver as coisas que eu tenho que viver. Desconta uns cinco da faculdade e ainda tenho 45. Vou vender a minha moto mesmo e vou para lá, cara, não vou esperar não". Eu procuro pensar do mesmo jeito... Quantas pessoas vão aparecer nas nossas vidas em 50 anos? Quantos beijos? Quantos afagos, transas? Quantos "nãos" ainda pela frente?Quantos sentimentos verdadeiros você vive em 50 anos? O fato de você ter tanta admiração por mim só me faz querer estar por perto, dedicar-me aos meus sonhos, equibilibrar o meu afago, suprimir o meu sentimento verdadeiro seria o maior gesto de crueldade que eu poderia ter com o meu corpo. Ao mesmo tempo, o esgotamento. O não-querer-pensar, enquanto a madrugada me afunda travesseiro adentro e o amor - que um dos meus olhos tem pelo outro - procura resgatar os meus suspiros do cansaço lá no fundo do meu peito. É! Mas um dia tudp passa....


por Thayse Figueiredo.

1 de jun. de 2009

ce que je suis



Cianeto Espumante. Indiferença. Anestesia. A vida está lá do outro lado, eu sei, mas dá sinal de ocupado direto: Os textos inacabados eu tenho guardado. As músicas dançantes que eu tenho baixado, agrupo na minha pasta de jazz. Os cento e cinqüenta passos anteriores à chegada no trampo, mas percebo os pulsares, o coração soprado, os olhos, a boca, os passos, os passos. Tenho agido ultimamente comigo como quem se vê de costas no espelho indo sempre para frente e não saindo da dimensão inicial. Enfio fones nos meus ouvidos para entrar em viagens, enfio os olhos nas telas de cinema ou no computador para não precisar olhar para o lado ou para trás, enfio a cabeça quase toda embaixo do travesseiro quando vou dormir, e tudo porque a urgência do tempo não me atinge mais. Nada me atinge mais. Estou como nunca mais inclinado a experiências sensorias, à textura do ar na pele, à circulação sangüínea, ao salivar e à respiração. É como se o meu corpo estivesse entrando por inteiro num estado de meditação enquanto a minha cabeça ainda está preocupada e reminiscente, descontextualizada e atrás de um equilíbrio maior com o erotismo que o descanso proporciona. E tudo o que foge a isso se traduz em interrogativas. A sede, a fome, a vontade, a libido, o sono. Por que acontecer assim, e não assado? Com que intenção eu faço isso? Por que eu irrito o meu cachorro com bolas e mãozadas se eu admiro nele a capacidade constante de descansar? Como não terminar os escritos, onde está a força mental e a explosão verbal que sempre se desenvolveram bem das minhas iniciativas? Se esconderam. Me sinto invisível nesse fim de ano, com toda a aura etérea que teria uma verdadeira entidade. Mais que isso, uma epifania invisível e absolutamente esgotada, mas que escolheu o estado de descolorização para ter o princípio do sossego ao alcance, longe das relações. Sumi. Me sinto desconexa quando tento escrever algo que tenha uma linha narrativa ou melódica, o meu lado analógico não funciona mais e o digital está desajustado. Anoto frases aqui e ali para posteriormente ver se rola uma liga, mas a única substância que eu encontro para efetivar essa coesão é mesmo o esgotamento. Tenho lançado para mim mesma várias questões para tentar desenvolver. Pensei outro dia em iniciar um possível romance sobre os amores contemporâneos, mas na última semana eu ouvi tantas histórias tristes de complicações afetivas que de cara relutei a experiência. De repente a África me surgiu como uma saída. Retornar aos problemas humanos e dissertar sobre a lata de lixo que o mundo ocidental fez do continente africano seria um bom pretexto para que eu destilasse toda a minha indignação com a indiferença do sub-homem. E o sinal de ocupado, ali. E o espelho, aqui. E eu de costas. E as minhas fotos flickr noturnas, e a procura, e o estar submersa. Submersa. Até que a vista desembace e se desligue da água e o banco surdo do ambiente aquático desapareça com uma mão me puxando, exatamente como a minha já salvou pessoas do medo do afogamento. A mesma mão que agora só consegue rascunhar as minhas desconexões até aqui inflexíveis e igualmente surdas, quase sem expressão nenhuma.


• as coisas começam e terminam dentro de você •


por Thayse Figueiredo.